Valor Econômico "Ex-executivos iniciam nova carreira como consultores"

Valor Econômico "Ex-executivos iniciam nova carreira como consultores"

...Outro exemplo de executivo que se tornou consultor é Ademir Calenzani. Ele acumulou 34 anos de experiência nas áreas de pesquisa e desenvolvimento de produtos na indústria do papel em empresas como Schweitzer-Mauduit e Suzano.

Na última, foi gerente-executivo até 2010, quando se aposentou durante uma reestruturação da companhia. No mesmo ano, a própria Suzano o chamou para prestar serviço de consultoria e, em seguida, ele recebeu outro convite da Oswaldo Cruz Química. "Sabia que o espaço existia, mas não tinha esse plano. Foi uma coisa que aconteceu naturalmente", explica.

Além de continuar proporcionando ganhos financeiros, o trabalho como consultor permite que Calenzani se mantenha ativo no mercado. "Mesmo aposentado, sentia-me em pleno vigor e tinha um conhecimento que o mercado demandava", explica.

Embora já esteja plenamente adaptado e encare a nova carreira com otimismo, Calenzani admite que a transição foi complexa e houve momentos em que ele considerou se dedicar apenas à marcenaria, seu hobby.

Um dos principais desafios para ele ainda é equilibrar o trabalho de consultoria técnica com a experiência organizacional adquirida como executivo. "É difícil se posicionar apenas como técnico, quando você vê que a técnica é só metade do problema. É preciso se acostumar a ser um conselheiro e saber que você não dita mais o ritmo das coisas", ensina.

Uma das formas de desenvolver melhor os novos aspectos do trabalho de consultoria foi participar de um curso no IBCO.

Com 40 horas de duração, o programa já formou 300 participantes em São Paulo e este ano passou a ser oferecido em outras capitais do país. "Um profissional pode ser um excelente especialista, mas um péssimo consultor, e só descobre isso na prática. A maioria demora a perceber que precisa adquirir competências específicas para a profissão", explica Miguens. Segundo o presidente do IBCO, o curso tem o objetivo de desenvolver habilidades como relacionamento pessoal, gestão de projetos de consultoria, capacidade de se vender e comunicação.

Hoje autodenominado consultor marítimo, o ex-oficial da Marinha Francisco Leal não só fez o curso como o indicou para os dois filhos. Embora não atuem como consultores - uma é enfermeira e o outro está se formando em sistemas da informação - Leal considera as habilidades desenvolvidas, em especial a maneira de lidar com o mercado, essenciais para qualquer profissional. "Melhorei minha atitude com os clientes e sei me colocar com mais firmeza", garante.

Após mais de 40 anos no efetivo da Marinha, Leal também diz ter virado consultor por acaso. Durante os últimos 13 anos em que passou na instituição, ele trabalhou em capitanias dos portos, onde lidava com empresas com projetos de obras sob, sobre e às margens de águas jurisprudenciais brasileiras - como construção de píeres, cais e lançamentos de dutos.

Quando foi para a reserva em 2008, as empresas continuaram a ligar para Leal em busca do conhecimento específico de normas e regulação. "Percebi que esse poderia ser um bom caminho". Apesar da surpresa inicial dos clientes, quando ele começou a cobrar pelas mesmas informações que dava como oficial da Marinha, Leal diz que "ainda não teve que procurar trabalho"...